quinta-feira, 21 de maio de 2009

Biblioteca Brasiliana

São Paulo ganha Biblioteca Brasiliana

São Paulo vai ganhar uma nova biblioteca, enorme e diferente de todas as outras. São 17 mil títulos, todos sobre o Brasil ou feitos no Brasil. São Paulo vai ganhar uma nova biblioteca, enorme e diferente de todas as outras. São 17 mil títulos, todos sobre o Brasil ou feitos aqui no Brasil. A Biblioteca Brasiliana está sendo construída na Cidade Universitária, perto do prédio da reitoria. Os livros foram doados à USP pelo empresário José Mindlin, que hoje tem 94 anos de idade. Ele passou a vida colecionando livros raros. A biblioteca deve ser inaugurada em dois mil e dez, e poderá ser acessada pela internet. É em um vazio moldado a ferro, onde ainda o concreto escorre, que caberá o conhecimento. A biblioteca por enquanto é toda imaginação. “São três andares de livros. Todas as paredes com toda coleção exposta. A ideia é que a gente tivesse sempre o visitante em contato com o acervo”, explica o arquiteto Rodrigo Mindlin Loeb. Este será o corpo da Brasiliana. A alma da Brasiliana ainda está bem longe; na casa de José Mindlin, no espaço especialmente construído, ao lado do jardim, para abrigar a biblioteca dele com quase 100 mil volumes. É uma sala de preciosidades e raridades. Os livros são do século 19, de literatura brasileira. Lá, estão quase todas as primeiras edições dos livros de Machado de Assis. Há as primeiras edições dos dois romances mais lidos no século 19: “O guarani”, de José de Alencar e “A moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo. Ao pé da escada fica Santo Inácio, um verdadeiro santo do pau-oco. No espaço de trás escondiam o ouro para escapar ao fisco dos portugueses. É neste espaço da memória e do passado que vive um novo agregado: um robô do século 21, um devorador de livros, que lê 2,4 mil páginas por hora. “O usuário vai ver o livro tal como ele é: a imagem do livro original, mas por trás dessa imagem há uma versão digitalizada, como se fosse transcrito. O usuário pode fazer busca por palavra, frase, iluminar trecho, copiar e colar. A pessoa vai poder imprimir em casa, encadernar e colocar na sua estante”, antecipa o coordenador da Brasiliana digital Pedro Puntoni. O robô reconhece 120 línguas. Até o final do ano o plano é que ele tenha digitalizado quatro mil livros e 30 mil imagens. Os primeiros livros que já estão sendo digitalizados são os dos viajantes que percorreram o Brasil nos séculos 16, 17, 18 e 19. Toda a coleção das gravuras de Debret. Depois disso será a vez de todos os livros de história do Brasil e literatura brasileira.

“Era um sonho, no meio de muitos outros, era sim”, diz o bibliófilo José Mindlin.

http://sptv.globo.com/Jornalismo/SPTV/0,,MUL1161123-16574,00.html

domingo, 3 de maio de 2009

O essencial ofício de preservar o seu livro

A encadernação manual empresta a si mesma uma expressão própria, como fazem outras atividades no campo das artes aplicadas. Adotei a encadernação como passatempo, e agora assumi como profissão que aprendi com meu pai o ofício de encadernar. Livros, revistas, cartas, documentos, mapas, obras de arte e muitos outros objetos dessa natureza constituem um tesouro de informações e são parte fundamental do patrimônio cultural da humanidade, Papéis impressos, desenhados, pintados, manuscritos, fotografados servem há séculos como suporte para o registro da ação humana e, não por acaso, representam um grande volume de informações a ser preservado. É a partir desses registros que indivíduos, comunidades e nações constroem e preservam sua memória e identidade. Ninguém precisa ser um técnico para encontrar prazer em encadernar livros como passatempo, mas deverá ser um bom conhecedor da matéria e possuir prática do ofício, antes de pretender obter remuneração por serviços prestados a outrem. A prática adquire-se na proporção que se trabalha num ofício com vontade de melhorar.Praticamente toda casa de família possui livros velhos que necessitam reparos ou reencadernações; ou então sempre existem boas revistas que podem e devem ser encadernadas em volumes. As revistas, assim como os livros, podem ser facilmente preservadas, se alguém se empenha em levar avante a ideia de encaderná-las. Encadernação, além do mais, requer apenas o trabalho de costurar, colar, cortar papel...enfim, adoro papeis!

A gripe dos porcos e a mentira dos homens...

01/05/2009 -

A gripe dos porcos e a mentira dos homens
Publicado no Jornal do Brasil

O governo do México e a agroindústria procuram desmentir o óbvio: a gripe que assusta o mundo se iniciou em La Glória, distrito de Perote, a 10 quilômetros da criação de porcos das Granjas Carroll, subsidiária de poderosa multinacional do ramo, a Smithfield Foods. La Glória é uma das mais pobres povoações do país. O primeiro a contrair a enfermidade (o paciente zero, de acordo com a linguagem médica) foi o menino Edgar Hernández, de 4 anos, que conseguiu sobreviver depois de medicado. Provavelmente seu organismo tenha servido de plataforma para a combinação genética que tornaria o vírus mais poderoso. Uma gripe estranha já havia sido constatada em La Glória, em dezembro do ano passado e, em março, passou a disseminar-se rapidamente.
Os moradores de La Glória – alguns deles trabalhadores da Carroll – não têm dúvida: a fonte da enfermidade é o criatório de porcos, que produz quase 1 milhão de animais por ano. Segundo as informações, as fezes e a urina dos animais são depositadas em tanques de oxidação, a céu aberto, sobre cuja superfície densas nuvens de moscas se reproduzem. A indústria tornou infernal a vida dos moradores de La Glória, que, situados em nível inferior na encosta da serra, recebem as águas poluídas nos riachos e lençóis freáticos. A contaminação do subsolo pelos tanques já foi denunciada às autoridades, por uma agente municipal de saúde, Bertha Crisóstomo, ainda em fevereiro, quando começaram a surgir casos de gripe e diarreia na comunidade, mas de nada adiantou. Segundo o deputado Atanásio Duran, as Granjas Carroll haviam sido expulsas da Virgínia e da Carolina do Norte por danos ambientais. Dentro das normas do Nafta, puderam transferir-se, em 1994, para Perote, com o apoio do governo mexicano. Pelo tratado, a empresa norte-americana não está sujeita ao controle das autoridades do país. É o drama dos países dominados pelo neoliberalismo: sempre aceitam a podridão que mata.
O episódio conduz a algumas reflexões sobre o sistema agroindustrial moderno. Como a finalidade das empresas é o lucro, todas as suas operações, incluídas as de natureza política, se subordinam a essa razão. A concentração da indústria de alimentos, com a criação e o abate de animais em grande escala, mesmo quando acompanhada de todos os cuidados, é ameaça permanente aos trabalhadores e aos vizinhos. A criação em pequena escala – no nível da exploração familiar – tem, entre outras vantagens, a de limitar os possíveis casos de enfermidade, com a eliminação imediata do foco.
Os animais são alimentados com rações que levam 17% de farinha de peixe, conforme a Organic Consumers Association, dos Estados Unidos, embora os porcos não comam peixe na natureza. De acordo com outras fontes, os animais são vacinados, tratados preventivamente com antibióticos e antivirais, submetidos a hormônios e mutações genéticas, o que também explica sua resistência a alguns agentes infecciosos. Assim sendo, tornam-se hospedeiros que podem transmitir os vírus aos seres humanos, como ocorreu no México, segundo supõem as autoridades sanitárias.
As Granjas Carroll – como ocorre em outras latitudes e com empresas de todos os tipos – mantêm uma fundação social na região, em que aplicam parcela ínfima de seus lucros. É o imposto da hipocrisia. Assim, esses capitalistas engambelam a opinião pública e neutralizam a oposição da comunidade. A ação social deve ser do Estado, custeada com os recursos tributários justos. O que tem ocorrido é o contrário disso: os estados subsidiam grandes empresas, e estas atribuem migalhas à mal chamada "ação social". Quando acusadas de violar as leis, as empresas se justificam – como ocorre, no Brasil, com a Daslu – argumentando que custeiam os estudos de uma dezena de crianças, distribuem uma centena de cestas básicas e mantêm uma quadra de vôlei nas vizinhanças.
O governo mexicano pressionou, e a Organização Mundial de Saúde concordou em mudar o nome da gripe suína para Gripe-A. Ao retirar o adjetivo que identificava sua etiologia, ocultou a informação a que os povos têm direito. A doença foi diagnosticada em um menino de La Glória, ao lado das águas infectadas pelas Granjas Carroll, empresa norte-americana criadora de porcos, e no exame se encontrou a cepa da gripe suína. O resto, pelo que se sabe até agora, é o conluio entre o governo conservador do México e as Granjas Carroll – com a cumplicidade da OMS.
Mauro Santayana é jornalista

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